sábado, 21 de maio de 2011

Noção de "erro"

Quem nunca foi corrigido por pronunciar uma palavra “errada”? Ou quem já falou “Tumati” ao invés de Tomate? Por que o “erro” é visto na sociedade como algo pejorativo? Qual é o papel dos educadores na representação do “erro”? Pensando nestas questões o artigo de Josilene Pereira vai discutir as representações do “erro” no contexto escolar numa classe de Alfabetização de Jovens e Adultos. A autora utiliza as noções de alfabetização e letramento para descrever como a linguagem escrita e a linguagem oral são processos complementares, e compreender essas definições torna- se importante para entender as relações da linguagem escrita com a linguagem oral. A pesquisa ressalta como a língua padrão tem sido privilegiada em detrimento da linguagem oral e qual é a relação da língua com a vida em sociedade.

A pesquisadora utiliza os saberes do campo da linguística, as relações de ensino-aprendizagem e de entrevistas para explicar como professores e alunos lidam com “a noção de erro.” A partir dessas entrevistas e das fundamentações teóricas a autora percebe que o “erro” nada mais é do que variações linguísticas e não erros linguísticos. Muitas vezes, a escrita tida como errada e certa, na verdade é fruto de uma convenção socialmente estabelecida. Nos relatos da pesquisa fica claro como a norma ortográfica e as formas de linguagens, utilizadas pelos alunos da EJA, geram conflitos interculturais. Para exemplificar como esses conflitos são gerados, retiramos o relato descrito abaixo:
Excerto 3
M: Gente... tô morrendo de dor de cabeça...
J: Faz um chá de vacidera e nanuscada e toma...
M: Anota aí pra mim... J....
J: Professora... escreve aí vacidera e nanuscada que é pra ela aqui copiar... ((a professora foi
até o quadro e escreveu ERVA-CIDREIRA e NOZMOSCADA))
J: ((o aluno olhava para o quadro fixamente, seus olhos ficaram arregalados, denotando
surpresa diante das formas lingüísticas apresentadas pela professora))NÃO... professora é
pá escrever vacidera e nanuscada...
A: Pois é J... Olha aqui ((soletrando)) ER-VA-CI-DREI-RA e NOZ-MOS-CA-DA...
J: NÃO... mas num escreve assim não... eu falei errado?
P: De maneira nenhuma... J... essa maneira que você falou é a maneira que nós falamos... é
a nossa linguagem... é a nossa cultura... é o que você aprendeu... a gente fala de um jeito...
mas a escrita tem que ser de outro...
J: OBA... valeu... agora aprendi duas palavra nova... (PEREIRA, 2008, p.157)

Na pesquisa outros aspectos aparecem, tais como os estigmas sociais e a valorização de se “escrever certo”, ou melhor, “escrever como a professora”. Podemos concluir que a pesquisa mostra como as relações da escrita e da fala parecem aos alunos como um processo separado, na hora de falar se usa uma linguagem e na hora de escrever utiliza-se outra linguagem. A autora afirma que para ensinar a norma culta não necessariamente devemos negar as diferenças linguísticas dos sujeitos, o professor (a) deve articular a norma culta com as variações linguísticas dos sujeitos para não criar um distanciamento entre o mundo letrado e a linguagem aprendida nas praticas sociais. Josilene Pereira apresenta uma nova definição, onde “a alfabetização e letramento se interagem e se complementam (cf. SOARES, 2001)” e também apresenta duas concepções distintas no estudo de letramento: o modelo autônomo e o modelo ideológico de letramento (para saber mais: www.scielo.br/pdf/tla/v47n1/v4701a08.pdf).

Referência Bibliográfica:

Pereira, J. D. S.. As representações do “erro” na aprendizagem da escrita numa classe de alfabetização de jovens e adultos Trab. Ling. Aplic., Campinas, 47(1): 151-168, Jan./Jun. 2008.

Linguagem, linguística e conhecimentos linguísticos

Historicamente, a linguagem humana tem sido concebida de diferentes maneiras e discutida em diversas abordagens e estudos científicos, podendo ser considerada como uma ferramenta de representação do mundo e dos pensamentos ou como uma forma de comunicação, interação ou ação (Koch,2000).



O uso da linguagem como representação (para saber mais: http://www.dcc.unicamp.br/~cpg/material-didatico/mo622/200101/Moises/seminario-0.html) é a mais antigas das teorias, embora ainda hoje tenha defensores. Nessa abordagem, considera-se que a função da língua é representar, refletir o pensamento e o conhecimento de mundo (Koch,2000). Foucalt diz que “a existência da linguagem é soberana, pois as palavras receberam a tarefa e o poder de representar o pensamento” (Foucalt, 1999, p.107, IN Mendonça, 2000).



Os autores que consideram a linguagem como instrumento de comunicação fazem a análise da língua como um código (para saber mais: http://www.ich.pucminas.br/posletras/Producao%20docente/Marco%20Antonio/Ortografia%20e%20Fonologia_2005.pdf), permitindo a comunicação entre emissor e receptor, ou seja, a linguagem serve para transmitir informações (Koch, 2000).



Atualmente, a linguagem concebida como forma de ação e de interação entre os sujeitos (para saber mais: http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/volumes/37/EL_V37N2_07.pdf) tem sido a mais usada como orientação dos estudos sobre essa temática. Essa interação possibilita diversas práticas sociais e os mais diversos tipos de atos, induzindo o estabelecimento de vínculos e da interlocução, promovendo o estabelecimento de regras sociais e de convivência entre as diferentes pessoas.



A concepção que norteará o desenvolvimento deste trabalho baseia-se na visão de linguagem como atividade sócio-interativa, como forma de ação, como lugar de interação entre sujeitos, dentro de um determinado contexto social de comunicação e para um determinado fim. A linguagem é, portanto, entendida aqui como um espaço de interação e é nesse espaço e através dele que no situamos no mundo, buscamos compreendê-lo e nos constituímos como sujeitos, construindo imagens e representações sobre os outros sujeitos com os quais nos relacionamos (Costa Val & Viera, 2005, p.24).



A partir desse conceito de linguagem, indaga-se: Como se dá o processo de interação entre os sujeitos através da linguagem? Como a língua é entendida no âmbito da diversidade? Existe certo e errado para a linguística moderna?


Em primeiro lugar, é importante entender algumas definições de língua e linguística. Para Bagno (2006), a língua é um sistema de sons e significados que se organizam sintaticamente para permitir a interação humana e qualquer manifestação linguística cumpre essa função (…). A Linguística concebe a língua como uma realidade intrinsicamente heterogênea, variável, mutante, em estreito vínculo com a realidade social e com os usos que dela fazem seus falantes (Bagno, 2006, p. 1 e 2).



Já os PCNs que tratam do ensino da Lingua Portuguesa, definem que “a língua é um sistema se signos específico, histórico e social, que possibilita a homens e mulheres significar o mundo e a sociedade”.


Ainda de acordo com Bagno (2006), a linguística é o estudo da língua “em si mesma”, em seus aspectos fonológicos, morfológicos e sintáticos. O campo da linguística que se interessa entender e explicar as relações sociais intermediadas pela linguagem é a Sociolinguística, uma vez que “a linguística demonstra que todas as formas de expressão verbal têm organização gramatical, seguem regras e têm uma lógica linguística perfeitamente demonstrável. Ou seja: "nada na língua é por acaso” - a sociolingüística visa demonstrar os aspectos estruturais das mudanças e variações encontradas na língua (Bagno, 2007, p.11).



Embasa-se nas teorias de Ferdinand de Saussure, linguista suíço, tido como pai da linguística moderna, que ao distinguir os conceitos da língua e da fala, estabeleceu-se uma nova abordagem para os estudos da linguagem. De acordo com Saussure, a língua (langue), “é o conjunto dos hábitos lingüísticos que permitem a uma pessoa compreender e fazer-se compreender” (Saussure, 1969, p.92, IN Niéri & Tavares,___, p.3).



Em relação à questão social, afirma-se que “a língua é a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que, por si só não pode nem criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude duma espécie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade” (CLG, p.22, IN Niéri & Tavares,___,p.3 ).



A Sociolinguística tem como foco principal os falantes (indivíduos) da língua, os seres humanos que se interagem e se comunicam através da língua, sendo participantes e construtores da sociedade dividida em classes, permeada por conflitos socioculturais, que portam e recriam culturas que se modificam ao longo do tempo.



Contudo o papel desempenhado pela sociolinguística é o da educação linguística, ao atuar no reconhecimento da heterogeneidade intrínseca da sociedade (Bagno,2007), ou seja, considera que a língua só existe porque há uma sociedade que a utiliza. No entanto a fala (para saber mais: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-14982009000100002&script=sci_arttext) é definida como “um ato individual de vontade e inteligência” (CLG, p.2, IN Niéri & Tavares, ___, p.3 ), possibilitando dizer que a “língua é a parte essencial da linguagem, e a fala é a maneira individual da nossa comunicação” .



Foi Saussure quem definiu a linguagem como uma instituição social, mas, apesar disso, não considerou os aspectos sociais em seus estudos. Ele priorizou o estudo da langue, considerando que a língua é social por pertencer à sociedade, mas não enfoca a interferência de fatores externos no fenômeno linguístico, que se manifestam principalmente na fala ( Niéri & Tavares,___,p.3 ).


Entretanto, para o entendimento do funcionamento da língua, das suas variações e mudanças, bem como da relação entre fala e escrita, da linguagem oral, escrita e representada são necessários os Conhecimentos Linguísticos, que são conhecimentos prévios que permitem a compreensão da leitura, da fala e da escrita, envolvendo tanto os conceitos e regras da gramática tradicional quanto as variações e mudanças estudadas pela linguística moderna.



Ao se falar sobre a língua, há dois discursos que se contrapõem: o discurso científico, embasado nas teorias da Linguística Moderna e o discurso do senso comum, que é permeado por preconceitos sociais e concepções ultrapassadas, que opera com a noção do erro (Bagno, 2006,p.1). Durante muito tempo, estudiosos lutaram para manter a língua pura. Hoje sabemos, por meios de estudos, que “a variação é essencial à própria natureza da linguagem humana, e sendo assim, dado o tipo de atividade que é a comunicação lingüística, seria a ausência de variação no sistema o que necessitaria ser explicado” (MONTEIRO, 2000, p.57, In Niéri & Tavares). Em outras palavras, podemos afirmar que se a língua é “viva”, sendo impossível evitar que ela varie e mude com o passar do tempo. É possível afirmar também que, ainda que os falantes estejam em constante interação, jamais utilizarão a língua da mesma maneira. (Niéri & Tavares,___,p.5).

Referências Bibliográficas:

BAGNO, Marcos. Nada na Língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

________. Ciência e senso comum na educação materna. Revista Presença Pedagógica. Setembro de 2006. http://marcosbagno.com.br/site/?page_id=37. Acessado em 10/05/2011.

COSTA VAL, Maria da Graça e VIEIRA, Martha Lourenço. Produção de textos escritos: Construção de espaços de interlocução. Belo Horizonte; Ceale/FaE/UFMG,2005. Coleção Alfabetização e Letramento.

KOCH, Ingedore Villaça. A Interação pela linguagem. São Paulo, SP: Contexto,2000 – Coleção Repensando a Língua Portuguesa.

MENDONÇA, Ercilia Severina. Ci. Inf., Brasília, v. 29, n. 3, p. 50-70, set./dez. 2000.

NIÉRI, Juliana Sanches e TAVARES, Marilze. Reflexões sobre variação lingüística e ensino. http://www.unigran.br/revistas/interletras/ed_anteriores/n8/artigos/artigo03.pdf. Acesso: 1 de abril de 2011.

SEF/MEC( 1998). Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: SEF/MEC.

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